O cheiro de queimado vindo do banheiro no início da manhã é um prenúncio de problema. Não um problema qualquer, mas um que tem preço, e em Belo Horizonte, ele anda salgado. A saga para consertar um simples chuveiro, trocar uma tomada que faísca ou, para os mais corajosos, reformar a fiação elétrica de um imóvel antigo, começa com uma pergunta que ecoa em grupos de WhatsApp e conversas de vizinhos: “Você tem um eletricista de confiança?”. Mas a pergunta seguinte é a que realmente importa: “E quanto ele cobra a diária?”.
A resposta, caro leitor, não é simples. E pode custar mais do que você imagina.
Vamos direto ao ponto. Após uma semana de apuração, cruzando dados de aplicativos de serviço, conversando com profissionais e, claro, ouvindo os lamentos de quem precisou do serviço, o valor de uma diária de eletricista em Belo Horizonte hoje flutua, em média, entre R$ 250 e R$ 450. Uma variação de quase 100%. Por quê? Porque, como em quase tudo na vida, o buraco é bem mais embaixo.
“Tem o cara que faz o ‘gato’, que chega com uma chave de fenda e um rolo de fita isolante, e tem o profissional que fez curso, que tem certificação NR-10 e não vai colocar fogo no seu apartamento”, me conta, quase num desabafo, Marcelo F., eletricista com mais de 20 anos de estrada, enquanto tomávamos um café rápido em uma padaria no bairro Floresta. “Meu dia vale R$ 400. Inclui minha experiência, minhas ferramentas, que não são baratas, e a garantia de que você vai dormir em paz. Tem gente que acha caro. Caro é o prejuízo de um curto-circuito.”
A geografia da cidade também dita o preço. Um serviço no Belvedere ou no Sion tende a ter um custo mais elevado do que o mesmo reparo no Barreiro ou em Venda Nova. É a lógica perversa do CEP, que inflaciona tudo, do pão de queijo ao conserto da sua tomada.
E o que cabe nessa “diária”? Geralmente, de seis a oito horas de trabalho. Mas aqui mora o perigo. Uma visita para avaliar o problema, muitas vezes, já é cobrada. Alguns chamam de “taxa de deslocamento”, outros de “orçamento técnico”. O nome é bonito, mas o efeito é o mesmo: dinheiro que sai do seu bolso antes mesmo de o primeiro fio ser desencapado.
A tentação de economizar é grande. E compreensível. Em uma busca rápida por plataformas online, encontramos “eletricistas” oferecendo diárias por R$ 180, R$ 200. Parece um bom negócio. Parece.
“Olha, eu caí nessa”, relata Ana Cláudia, moradora do Castelo. “Contratei um ‘faz-tudo’ pra instalar umas luminárias novas. O preço foi ótimo, metade do que os outros pediram. Uma semana depois, a luz da sala começou a piscar. Chamei um eletricista de verdade, e ele me mostrou o serviço. Fio de internet usado no lugar de fio elétrico, emenda feita com esparadrapo. Tive que refazer tudo. O barato me custou o triplo e um baita susto.”
A história de Ana Cláudia não é exceção. É a regra no manual não escrito do “jeitinho brasileiro” que, quando se trata de eletricidade, pode ser fatal. O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-MG) e o Sindicato das Empresas de Instalações Elétricas (Sindimig) até tentam orientar, criam tabelas de referência, mas no mundo real, da fiação exposta e do disjuntor que não para de cair, a informalidade grita mais alto.
O problema é que a conta dessa economia porca não é apenas financeira. É uma aposta com a segurança da sua família. Um serviço mal feito não é só uma dor de cabeça, é um risco real de incêndio.
No fim das contas, a busca pelo eletricista em Belo Horizonte virou um retrato de um país que vive no improviso. De um lado, o profissional qualificado, que investe em formação e equipamento, tentando justificar seu preço em um mercado inundado por amadores. Do outro, o cidadão comum, com o orçamento cada vez mais apertado, fazendo malabarismos para manter a casa em ordem sem ir à falência.
A verdade é que não existe milagre. Um bom serviço custa dinheiro. A questão é saber diferenciar o preço justo da exploração. E, para isso, a melhor ferramenta ainda é a informação. Pesquise, peça referências, exija um orçamento detalhado. Desconfie de promessas fáceis e preços muito abaixo da média. Porque, quando a luz apaga de vez, o conserto pode ser tarde demais. E o preço, impagável.